Resenha: Maravilhosas Distopias - Maurício Coelho


Sinopse: Zygmunt Bauman já prevê o fim da democracia, mas não consegue dizer de que forma. O mundo já não aguenta tanta desigualdade. Este famoso sociólogo polonês, vai contra as palavras da ficção cientifica que enxergam um futuro nebuloso, encoberto por brumas de mil megatons, repleto da mais intensa desigualdade e realidades múltiplas; um mundo que cada vez mais caminha para as profundezas, rumo às distopias de Aldous Huxley e George Orwell. Os contos reunidos nessa antologia procuram demonstrar o que está por trás dessa cortina nebulosa que só autores de ficção científica conseguem ver: futuros nada agradáveis numa realidade muito próxima do que antes chamavam de distopia.

Título: Maravilhosas Distopias
Organizador: Maurício Coelho

Autores(as): Ivan Y. Sikorski, L. A. Nuñes, Lu Days, Claudia Mina, André Luis Pinto, Gabriela Leão, Davi M. Gonzales, Márcia Dantas, Amauri Chicarelli, Jean Thallis e Maurício Coelho
Editora: Darda
Ano de Lançamento: 2015
Páginas: 76


Recebi este livro, através da parceria com o escritor Maurício Coelho, há um tempinho, li e só agora consegui fazer a resenha. O tempo está curto, então aproveitei esse feriadão para colocar as coisas em dia. 

Por um lado, Maravilhosas Distopias é uma antologia muito interessante, mas, por outro, possui alguns probleminhas que me desapontaram um pouco. Destaquei o trecho da imagem acima, porque as palavras do Luís no prefácio são impactantes, me fizeram pensar e concordar com praticamente tudo que diz e refletir sobre a realidade em que vivemos. Deixa eu parar de enrolar aqui e ir direto ao assunto!
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O conto de Ivan Y. Skorski, Surface Down, dá início à obra. Uma organização chamada "A Bolha" instaurou um regime mentiroso e explorador no mundo todo, depois de assassinarem oito presidentes, inclusive o dos Estados Unidos, da Rússia, da Alemanha, da Coréia do Sul e da China. "A Bolha implantou seu sistema, ergueu cidades dentro de muradas e construiu o império que domina". Consequentemente, não tiveram alguns adeptos, os quais formaram uma resistência, a Pegaso. Este grupo tenta reverter a situação e livrar a sociedade da repressão militar. Por ser bem construído, posso afirmar que renderia uma narrativa completa. E esse conto tem um baita final surpreendente, tanto que minha reação foi mais ou menos assim:

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Em seguida, vem o conto A Liga Invisível de L.A. Nuñes. O planeta foi assolado pela escassez da água e a nossa Amazônia foi tomada pelos Estados Unidos à força. O Brasil passou a ser cenário de várias guerras, cidades foram devastadas e pessoas inocentes mortas. Entre os sobreviventes estava Lúcifer, um homem com esperanças de derrubar o poder totalitário regente através do grupo chamado "Reles Mortais", "composto por lunáticos sociais e peritos em diversificadas áreas, cujo único objetivo era exterminar pessoas que não mereciam viver". Esse conto deixou a desejar, pois focou muito na descrição da esfera política e dos opositores ao invés de desenvolver mais a história. 

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O terceiro conto é o da Lu Days, chamado Asfixia. Somos apresentados a Destra ou, como era chamada, Cristal, uma prisioneira especial. Ela conta histórias de traição, rebeldia e opressão, sobre os seus companheiros de "jaula" e como o próprio homem arruinou o mundo, depois de pensar que o futuro traria bons frutos. O modo como a autora arquitetou a narrativa foi muito bom, visto que o drama e a desgraça do início da história foram colocados de lado para ter um final mais esperançoso e heroico. Um dos mais interessantes! 

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Lei do Mais Forte da Claudia Mina é o próximo. O ar, a terra e tudo mais está poluído, não há como viver senão em lugares fechados. Segundo Charles Darwin, "não são as espécies mais fortes que sobrevivem, nem as mais inteligentes, e sim as mais suscetíveis a mudanças", e é exatamente o que acontece ao longo dessa trama. As reviravoltas acontecem em instantes e aqueles que não se adaptam são descartados.Sobreviver em um mundo pós-apocalíptico demanda que o ser humano siga o seu instinto, e é justamente isso que a autora nos mostra. Esse conto é ótimo e bem diferente dos demais.

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A Abdução de Lucas do André Luís Pinto é o conto seguinte, mas que, a meu ver, nem deveria estar na antologia. Como o próprio título já adianta, Lucas, um morador do interior de Minas Gerais, é abduzido por seres alienígenas (aqueles do tipo humanoides, com olhos grandes escuros, cabeça oval e pele cinza). Depois de ser examinado pelas criaturas, o rapaz tem relações sexuais com uma mulher extraterrestre e, em um piscar de olhos, acorda em sua cama. Ele começa a se perguntar como continuaria a viver normalmente depois de um episódio como este, porém os anos passam e "tudo que vai, volta". Além de ter um final em aberto, o conto apresenta muitos erros ortográficos e de tempo. É uma história que não chega a lugar nenhum e não tem relação com o tema...não me agradou.

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No conto A Chuva da Mariana Leão, o fim está próximo. Uma chuva torrencial que durá há dias causa uma terrível enchente na cidade. Descobrimos tudo isso pelo ponto de vista de um trabalhador comum, que luta pela sua sobrevivência e a de seus colegas de escritório. A leitura é envolvente e agradável. Quando terminei de ler, a primeira coisa que veio à minha mente foi o filme "O Dia Depois de Amanhã". Será que serviu de inspiração?

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Depois, temos o conto Crimes Cinbenéticos do Davi M. Gonzales trazendo um assunto polêmico, a pornografia infantil. Os chamados Vídeos Sensitivos, que ao serem conectados ao cérebro, permitem o acesso as sensações em um nível exorbitante, "tornaram-se uma verdadeira praga", porque caíram nas mãos erradas, nas mãos de pervertidos. Deste modo, um agente do Governo Central incia uma caça a pedófilos, na tentativa de salvar milhões de crianças indefesas espalhadas pelo mundo. O desfecho não foi muito atrativo, não sei muito bem se gostei...

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O oitavo conto é o Sobre Corações Partidos e Curas Indesejadas da Márcia Dantas. O melhor! A Dr. Dias é uma cientista que busca a cura de uma doença sexual que ela não consegue entender. Leila, sua cobaia humana, faz com que ela comece a questionar certos assuntos defendidos pela sociedade conservadora. Homens amando homens, mulheres amando mulheres... por que ver isso como uma doença? O amor está em questão nesta história. A autora implementa uma crítica social de forma bem contundente. É um conto magnífico! “Como posso acreditar que vocês querem o melhor quando querem me impedir de amar quem meu coração quiser?”

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O Refúgio do Amauri Chicarelli vem na sequência. Uma ex-engenheira nuclear conta como o apocalipse nuclear, temido durante a Guerra Fria, afetou o planeta e mostra ter esperanças de que um dia melhor irá chegar. Vidas foram tiradas e a radiação arruinou tudo. Quem sobreviveu teve sorte. É um bom conto, traz reflexões intrigantes sobre a nossa realidade. 

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O penúltimo conto é o Mais Um Pedaço de Carne do Jean Thallis. O tema central é a prostituição, porém, de certa forma, mais desenvolvida. O homem pode comprar uma mulher e "usufruí-la" por dias, meses ou anos, comprometendo-se em promover coisas básicas para ela, como alimentação, higiene...  A maior preocupação do personagem é: se ele está tendo relações sexuais com uma mulher real ou um robô humanoide. O assunto é delicado, porém o autor não teve cuidado algum em tratar sobre a objetificação da mulher e o machismo. Além de colocar detalhes eróticos desnecessários, criou um protagonista extremamente estúpido e nojento. Não. Não gostei! Resumindo:

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E o conto que finaliza a obra é o do Maurício CoelhoLocus Amoenus. Um jovem tenta se desvencilhar da sociedade ditatorial em que vive para ir atrás de sua amada Marília. Ele passa por alguns apuros, mas será que obtém sucesso? Consegue fugir da Metrópole? Encontra o seu amor?

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No geral, a coletânea é boa. Contudo, algo me incomodou um pouco: nem todos os contos seguem realmente o tema distopia. Alguns focam mais no apocalipse, outros nos governos autoritários e outros obedecem a definição de distopia corretamente. Eu gosto desse gênero pelas reflexões que podem ser abordadas e a maioria dos contos não apresentaram isso.

A leitura é bem tranquila e rápida, afinal, são apenas 76 páginas. Cada autor(a) deixa a sua marca, uma escrita mais diferente que a outra. Encontrei alguns errinhos, mas não atrapalharam a interpretação. Espero que deem uma chance para este livro!





Maurício Coelho é o organizador dessa antologia. Nasceu no Belém do Pará, em 1992. Graduado em Licenciatura em Ciências Biológicas, publicou a tradução de "The Nursery Alice" ("A Cuidadosa Alice") de Lewis Carroll. Publicou também um poema na antologia Concurso Novos Poetas em 2014, além de um conto na coletânea "Horas Sombrias". Também publicou uma antologia solo de histórias chamada "Fogo Fátuo". Contato com o autor: moccoelho@gmail.com.



*Obrigada por disponibilizar "Maravilhosas Distopias", Maurício! Um grande abraço!

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